3/26/2006

DESAFIO

Voltei!!
Lanço-vos um desafio: O QUE NOS FAZ SENTIR "NÓS PRÓPRIOS"?

Uma das coisas que me faz sentir "EU" é...


Assistir calmamente a um pôr-do-sol na praia...
e de repente, desatar a correr de braços abertos
a gritar na maré vazia gelada,
e a sentir os cabelos a esvoaçar na brisa iluminada...

depois, gosto de ver dissolver-se a nuvem de gaivotas

que se levanta no ar
(rir-me dos seus pios púdicos, enquanto alarmadas
me chamam louca)
e se materializa mais à frente na areia lisa
à distância de outra corrida, a desafiar-me... outra vez...



E a vocês?

3/21/2006














TUAS INCÓGNITAS
.
.
Existe um sonho
não sei de quantas noites
.
Existe um nevoeiro
não sei de quantas madrugadas
.
Existe uma meia-luz
não sei de quantas velas
.
Existe um entoar
não sei de quantos cânticos
.
Existe um toque
não sei de quantos dedos
.
Existe um entender
não sei de quantas línguas
.
Existe uma atracção
não sei de quantos polos
.
Existe uma aventura
não sei de quantos riscos
.
Existe um mistério
não sei de quantas dúvidas
.
Existe um ritual
não sei de quantos medos
.
Existes TU
.
.
MCB

3/14/2006

Composição: EQUILÍBRIOS






3/11/2006


Mar escuro, imenso...
fascina-me mais uma vez... atrai-me...

Suga-me para os teus mistérios...
bebe-me nas tuas ondas...
adormece-me no teu embalar meigo...

Possui-me do teu azul e canta-me melodias eternas...
Faz-me tua deusa, enquanto danço nua para milhares de estrelas sorridentes...
arrepia o meu corpo com as tuas gotas geladas...

e deixa-me ser louca,
gritar à lua calma...
beber a noite...

Deixa-me esvair-me em ti...
e fazer das tuas marés o meu destino...
e do meu destino a tua espuma branca e leve...
.
.
MCB 92

3/10/2006


HIPNOSES DE VIVER

Hipnoses de viver...
Sonhos de SER...
Veleidades de existir...

E nunca somos o que queremos...
e nunca fomos
nem nunca seremos NÓS...

Apenas pretensões
perdidas no tempo
em busca do nirvana eterno

Apenas ilusões
que vagueiam no espaço
sôfregas por se encontrarem

Cegam-nos efémeros êxtases
orgasmos momentâneos
Emudece-nos a esperança alucinada
E vegetamos conformados
na hipnose de viver
.
.
MCB 94

3/07/2006


DICIONÁRIO DE AMAR
.
.
Quando releio o que te escrevi
vejo quão apertada fica a imensidão do que sinto

quão longe do caminho certo
estão os atalhos das palavras

quão além da intensidade
está o poema mais fervoroso

e quão alheio da verdade ficarias tu...

se não me desfolhasses
as emoções...

se não me soletrasses
as sensações...

se não te desse a ler
o meu mais verdadeiro poema...

se não pudesses consultar
o meu mais completo
dicionário de amar...
.
.
MCB

3/06/2006


AUTO-IMAGEM DESFOCADA

Com o olhar perdido em qualquer infinito imaginário
procuras um reflexo do teu verdadeiro "EU"
porque já não te conheces...

Foste contra os teus princípios

gravados a ouro e orgulho
nessa personalidade que julgavas já tão definida...
Agiste fora da tua própria lei
vincada a ferro e fogo no livro da tua vida
que julgavas aberto para ti...
Mas descobriste páginas coladas...
e viveste-as como se fosses outra pessoa,

mas eras tu...
por mais que ainda te custe a crer, eras tu...

Desiludida? Sim...
Mas, nesse horizonte de apatia
onde os teus olhos vagueiam amordaçando lágrimas
procura uma imagem...
Não sei se mais forte, se mais fraca...
mas a TUA imagem...
ainda pouco nítida...
mas que aprendeu sobretudo
a nunca dizer NUNCA...
*
*
MCB 95

3/03/2006


SELVA DE SANGUE E CIMENTO

Tens cerca de 12 anos. És miúdo da rua. Creceste por aí, de acordo com as leis da Selva de sangue e cimento e vais sobrevivendo...
tens até uma navalha no bolso... pedes por vezes, roubas a maior parte delas, secalhar passas droga para ganhar uns trocos... talvez até te prostituas...
Tens um irmão de 5 anos e entraram no autocarro sem pagar... Olho a tua expressão endurecida de criança que já viveu muito... Divides um chocolate com o teu irmão... Observas atentamente as paragens para ver se vês o "pica" e aproveitas para sondar as malas em teu redor...
Reparo nos teus olhos de gelo, de quem sabe a regra do "eu ou os outros". Trocas um olhar comigo, muito rápido, muito frio, muito indiferente... Faço parte de tudo contra o que tens que lutar diariamente e todos os dias são para ti uma batalha a vencer... És menino-homem à força...

Mas vejo também todo o carinho com que afastas da testa os cabelos sujos do teu irmão e com que lhe dás o chocolate quase todo e no fim lambes o papel... e vejo o cuidado com que lhe dás a mão para sairem na paragem seguinte. E sempre que olhas para ele tens o teu olhar meigo de criança, que ainda és.

Sais. Tenho vontade de fazer qualquer coisa, mas não faço. Tenho vontade de ir atrás de ti, mas não vou... e tenho vontade de chorar, mas não choro...
As minhas boas intenções não chegam... sou cobarde demais para agir. E tu vais continuar a roubar, a pedir, a lutar... talvez até uses a navalha contra alguém um dia... talvez até contra mim... e talvez eu até o mereça, sabes? Porque tu vais continuar a viver assim e eu não fiz nada! E vais ensinar ao teu irmão as leis da Selva de sangue e de cimento... e eu... limito-me a fazer parte dessa selva...
.
.
MCB 92

3/01/2006


CONTRA FACTOS...

É como se eu própria fosse a minha visão
e ao tocar-me, nem sequer me sentisse...
Como se a minha vida fosse uma ilusão
e eu nem sequer existisse...

À minha passagem tudo fica igual...
dissolvo-me bem na paisagem
sou o fantoche ideal...

E não adianta querer
não adianta esquecer
não adianta pensar

tenho a verdade crua
e a minha vida nua
e nada a argumentar
.
.
MCB 94