7/09/2012


 
PREÇO DE UMA PAIXÃO


Dói-me provar o sal das lágrimas nessa face molhada
e ver o teu corpo arquear-se em espasmos de dor...
e saber que sou aquela que, muito bem intencionada
queria dar-te só carinho, só ternura... só amor...


Tento consolar-te com beijos de mel amargo
que nem a mim consolam...e insisto em te abraçar,
enquanto a tua voz se emudece num embargo,
e o teu peito estremece junto ao meu, ao soluçar...


E ficamos assim numa aura de mágoa dormente
num labirinto de becos sem saída ou solução...
a agonizar em silêncio uma culpa inexistente
a pagar ao mundo inteiro o preço de uma paixão...


Sei que pagas um preço muito elevado por mim
um preço que ninguém devia 
ter que pagar por ninguém...
e eu, dilacerada por ver-te sofrer assim
além de pagar o meu preço, 
pago o teu preço também...
MCB

3/27/2010

PIANO

Falta-me um piano a soar...
com mãos a deslizarem àvidas de vida
e jorros de energia pura... a pairar
numa dança de emoções, fluída
dantes, adormecida
num som de teclas sem mar...


Falta-me o som de um piano a vibrar
com os dedos velozes de luz e de sons
de claves de Sol , claves de alegria
e da essência de uma melodia

sedenta de explodir em mil tons...


Falta-me um som de um piano no ar...
a declamar aquela clandestina composição
das minhas rimas e prosas
dos meus espinhos e rosas
num ritual de paixão...


Quero aquele som do piano que é meu
de teclas soltas e aladas
de loucas notas, suadas
e de imaginações
que eu não sei quem teceu...

Quero aquela partitura de sensações
tocada pelo piano que ontem me adormeceu
e me despertou em seduções...



MCB
Mar10

8/29/2008



SONHO
(a pedido do Louco de Lisboa)


Existe um sonho
não sei de quantas noites.


Existe um nevoeiro
não sei de quantas madrugadas.


Existe uma meia-luz
não sei de quantas velas.


Existe um entoar
não sei de quantos cânticos.


Existe um toque
não sei de quantos dedos.


Existe um entender
não sei de quantas línguas.


Existe uma atracção
não sei de quantos polos.


Existe uma aventura
não sei de quantos riscos.


Existe um mistério
não sei de quantas dúvidas.


Existe um ritual
não sei de quantos medos.


Existes TU

.
.

MCB

7/24/2008


PESADELO


Deito-me…
As minhas mãos vazias de ti
estão fechadas numa tempestade de sensações
Os dedos da noite acariciam-me meigamente
com um cinismo suave…embriagantes…

Fujo-lhes…
Viro-me…
Sinto-me a andar à roda
num carrossel negro em que me esqueço de mim
que me deixa cair num abismo intemporal,
e que numa apoteose infernal
me atinge com as vergastadas da tua ausência…

Quero gritar
Mas nenhum som se solta
Apenas intenções doídas que se esvaem...

Permaneço em ondas de uma angústia incolor
Num orgasmo de dôr…

Ritmado…
Vagas de um nirvana gelado…

Perco-me…
Como uma gota perdida de água num oceano de sede…
Sou o último espécimen de uma raça já extinta,
do teu sabor, faminta…

Adormeço exausta de ser…
E então…Sonho-te!
Encontro-te…
Vivo-te…

Dos meus olhos fechados emana um sorriso…
Enquanto me dissolvo em ti…

O pesadelo de não te ter
voltará só ao amanhecer…



MCB 08

6/15/2008

Depois de uns tempos "fechado para balanço", o darksidemorgana volta a abrir as portas.
Desta vez com um texto que recebi por mail, ao qual fiz umas alterações (poucas, note-se) cujo estudo atento aconselho vivamente, especialmente a quem gostar de contar as clássicas histórias de encantar...
CAPUCHINHO VERMELHO... Versão Acordo Ortográfico de 2058

Tás a ver a pita do gorro vermelho? Yah, essa cena! A dama foi obrigada pela kota dela a ir à toca da velha levar umas cenas, pq a velha tava a bater mal, tázaver?
E atão disse-lhe:
- Ouve, nem te passes! Népia dessa cena de ires…tipo, pelo refundido das árvores, q salta-te um meco marado dos cornos pá frente e depois tenho a bófia à cola!
Pá, a pita enfia a carapuça e vai na descontra pela estrada, mas a toca da velha era bué longe, e a pita cagou na cena da kota dela e enfiou-se pelo bosque. Népia de mitra, na boa e tal, curtindo o som do iPod...
É então que, ouve lá, salta um baita dog marado, todo chinado e bué ugly mêmo, que vira-se pa ela e grita:
- Yoo, tá td em cima?
- Tásse... E tu... tásse? - disse a pita
- Yah! E atão, q se faz?
- Seca, man! Vou levar o pacote à velha q mora ao fundo da track, q tá kuma moka do camano!
- Marado, marado!... Bute ripar uma até lá?
- Epá, má onda, tázaver? A minha cota não curte dessas cenas e põe- me de pildra se me cata...
- Dasse, a cota não tá aqui, dama! Tipo…desde que não te chibes, ela não sabe népias! Bute ripar até à casa da tua velha, até te dou avanço, só naquela da curtição. Sem guita ao barulho nem nada!
- Yah prontes, na boa. Vais levar um baile katéte passas!!!
E lá riparam. Só que o dog enfiou-se por um short no meio do mato e chegou à toca da velha na maior, com bué avanço, tázaver? Manda um toque na porta, a velha “quem é e o camano” e ele “ah e tal, e não sei quê, que eu sou a pita do gorro vermelho, tázaver?” e a velha abre a porta e PIMBA, o dog papa-a toda... Mas memo!!! Abre a bocarra e o camano e até tipo, chupou os dedos...
O mano chega, vai ao móvel da velha, saca uma shirt assim mêmo à velha que a meca tinha lá, mete uns glasses na tromba e enfia-se na cama... o gajo tava tipo bué abichanado mêmo, mas a larica era muita e a pita era à maneira, tázaver?
A pita chega, e tal, e malha na porta da velha.
- Basa aí cá pa dentro! - grita o dog.
- Yoo velhita… tásse?
- Tásse e tal, cuma moca do camâno... mas na boa...
- Toma esta cenas q a kota mandou...
- Bacano, pá…tipo…obrigadão, minha…
- Pá, e pa ké esses baita olhos, man?
- Pá, pa micar melhor a cena, tázaver?
- Ah…iá… Bem!!! E esse nariz todo janado, é pa quê?
- Tipo, pa cheirar melhor a área, tázaver?
- Yah, yah... Ina!!! E os abanos, bué da bigs, pa ke é?
- Pá, pa poder controlar melhor os sons à volta, tázaver?
- Yah, bacano... e essas gáspias tipo bué grandes e maradas a anhar aí no ar? Pa ké a cena?
- Pá, prontes… é pa te dar uns amassos melhor, tázaver… tipo…
- Yah… Atão e essa cremalheira amarela toda janada e bué big?...
- É PA TE CHINAR MELHOR!!!
E o dog manda-se à pita, naquela mêmo de a engolir, né? Só q a pita dá-lhe à brava na capoeira e saca um back-kick mesmo directo aos olhos do man e basa porta fora! Vai pela rua aos berros e tal, o dog vem atrás e dá-lhe um ganda-baite, pimba, mêmo nas nalgas, e quando vai pa engolir a gaja, aparece um meco daqueles que corta as cenas cum serrote, saca do machado e afinfa-lhe mêmo nos cornos. O dog kinou logo alí, o mano puxa da naifa, china a belly do dog e saca de lá a velha toda cheia da nhanha e ainda com uma ganda moca, a dizer:
- Bué fixe, man. Ganda nóia de trip! Bacano! Quero mais coca desta!
Ina man, e a pita do gorro vermelho a gregoriar-se toda, enquanto o meco limpava a naifa aos boxers e a fugir da velha q queria abraçar-se a ela!!!
E viveram bué mocados para sempre… E prontes, já tá...

3/24/2008


ASSALTO À MÃO DESARMADA
.
Lês-me no olhar o mais oculto desejo,
Sentes-me no corpo o disfarçado tremer,
Na boca provas-me a sede do teu beijo…
Nas mãos, a queimar-me, a ânsia de te ter…
.

Absorves-me no ar o que não quero exprimir...
Decifras-me na pele o que não quero mostrar...
E enquanto, teimosa, insisto em resistir
Bebes-me no toque, quanto me quero dar...

.


Vendas-me a lucidez!
Assaltas-me à mão desarmada!

E pedes-me algo que devia ser só meu...
Fazes-me refém de nós
a troco de nada,
sem quereres o resgate
que sabes ser já teu...
.

e roubas-me a intimidade
de só para mim
e de só em mim sentir...
e dás-me a liberdade
de só em ti,
intensamente amar...
.

.
MCB 08

3/03/2008


Nunca vais saber

*
Nunca vais saber
a sombra que fere o olhar
o sorriso breve sem luz
no caminho longo a fechar...


Nunca vais saber
o longo vácuo infinito
a saudade já a sangue gravada
na mudez nua de um grito...


Nunca vais saber
a lágrima quente na cama
os olhos de seda rasgada
o gelo firme na chama...


Nunca vais saber
a mão crispada e vazia
o desejo insano mordido
na intensidade do dia...


Nunca vais saber
o luar que me corre nas veias
das noites, de prata vestidos
e loucuras tecidas a meias...


Nunca vais saber
que és tu quem eu trago comigo
que és tu quem me assalta ao acordar
com um susto quente no peito...

Nem nunca vais saber
que sonho sempre contigo
e que à noite... em ti me aconchego,
e que é em ti que eu me deito...



Não!
Tu nunca vais saber...

*
MCB 08

2/26/2008


UM DIA

*

Um dia, alguém me escreveu algo assim:


"És como uma grande pedra de jade que encerra o enigma da vida...
tens o leve caminhar de quem tenta não pisar as emoções de ninguém
as tuas mãos dóceis feitas à medida da minha alma perdida
e a perfeição de um olhar que nunca quis mal a alguém"


e eu não liguei...


"A tua pele que ao toque se transforma em algo não terreno
o materializar da sensação de já te conhecer de uma outra existência...
e o teu sorriso, onde a natureza não começa nem acaba,
simplesmente o é, com toda a sua plenitude e evidência..."


e eu...fingi que não liguei...


"O teu corpo, fonte de energia viva, mistério e total magia...
onde os polos da minha vida se cruzam com os polos da tua vontade
onde o meu corpo se quer perder...
e contra isso, lutar, não faz sentido, nem é possível..."


e eu, fingi que nem quis ligar...


"Uma luz que brilha mesmo ao longe,
que se sente,
que se bebe,
que se reflecte na noite
e dá força ao meu dia...

Uma força,
onde tudo o que é novo começa
e tudo o que é mau se regenera...

Uma torrente de "ser",
que nasce no céu,
tem a terra como leito...
e que sempre que quiser
tem a foz no meu peito..."



Um dia, alguém que se diz "nada mais do que um homem", escreveu-me tudo isto...
e eu, continuei a fingir que não liguei...

*

"Nada mais do que um homem" 08

1/17/2008


PISCAS E ISCAS - O REGRESSO


O Piscas e o Iscas (respondendo à questão do Pecador) são 2 personagens “meus” que curiosamente nunca “apareceram” no dark side of morgana. Preferiam dialogar nos comentários de alguns (poucos) outros blogs.
São 2 mitras, que até têm uma Licenciatura há uns anos, mas que nunca conseguiram arranjar um emprego. Um deles – o Piscas – continua a tentar manter-se instruído.
A pedido da Cleópatra (que já teve que os aturar no cleopatramoon algumas vezes) vou tentar misturar estes dois personagens na postagem que estava a pensar fazer.

A “acção” passa-se num autocarro cheio, às 8 da manhã. O Piscas e o Iscas, como dedicados e bons carteiristas que são, já estavam a trabalhar, enquanto todos os outros ainda se dirigiam para os respectivos empregos. O Piscas tinha visto um sujeito com ar de “beto” que estava incomodadíssimo com um chapéu-de-chuva encharcado que uma senhora distraída teimava em lhe limpar às calças. O sujeito estava de pé e tentava desviar-se, sem grandes resultados e o Piscas, depois de ter feito sinal ao Iscas, aproximou-se. Avistando umas calças mais secas – as do Piscas – a senhora resolveu limpar melhor o seu chapéu-de-chuva, o que provocou ao nosso personagem um grande e repentino ataque de espirros.

O Piscas espirrou, mas teve o cuidado de não espirrar para cima de ninguém e estando a par das últimas recomendações da OMS, levantou com alguma pressa o antebraço, para tapar a boca e o nariz. No entanto, ao fazer o gesto acertou sem querer com força, na cabeça do seu alvo...o sujeito betinho…
Beto – Bem! Tenha lá mais cuidado, ouviu?
Piscas – Cuidado tive eu! Não viu que eu pus o antebraço à frente?
Beto – Cuidado teve você? Então você dá-me uma pancada dessas e diz que teve cuidado?
Piscas – Então você não sabe que segundo as novas recomendações da OMS, quando se espirra ou se tosse não se deve usar as mãos para cobrir a boca ou o nariz, mas sim o antebraço, para que não haja tanta propagação dos vírus?
Beto – Quero lá saber das recomendações da OMS! O que eu sei é que você me partiu os óculos da Armani! E eram novinhos!!!
Piscas – Olha-me este… Se calhar preferia que eu lhe tivesse espirrado para a cara e o tivesse enchido de perdigotos e de vírus, não?
Beto – Eu preferia era que não me tivesse partido os óculos!!! Mas afinal o que é que você tem?
Entretanto, enquanto as opiniões se iam dividindo, o Iscas tentava rapinar a carteira do beto…
Piscas – Uma ganda gripe há mais de 3 quinze dias, meu!
Beto – O quê?!?!? Uma gripe???? Você partiu-me uns óculos da Armani novinhos em folha, que me custaram um dinheirão por causa de uma... gripe??? Ainda se fosse por uma tuberculose multi-resistente! Agora uma gripe…francamente!!!
Piscas – Fosga-se! Você deve ‘tar a mangar comigo!
Nisto ouve-se uma voz lá detrás - Eh pá! Diz aí a esse esquisitinho, que se ele quiser uma tuberculose multi-resistente, é só dizer!!!
Perante o olhar aterrorizado de todos, o Piscas responde:
Piscas - Obrigadinhos pela ajuda meu, não é preciso!
Houve logo algumas pessoas em pânico, que aproveitando o facto de o autocarro parado numa fila interminável, começaram logo a promover o motorista e a fazer aqueles pedidos que sempre me deram imensa vontade de rir, pelas variadíssimas interpretações que podem ter:
Passageiro hipocondríaco 1 - Ó chefe! Abra-me aqui atrás, se faz favor!
Passageiro hipocondríaco 2 - Ó chefe! Não se importa de me dar um jeitinho aqui à frente?
Mas o beto, continuou, implacável:
Beto – Olhe, você não pense que se safa disto! Vai ter que me pagar os óculos! Ainda por cima, com a pancada que me deu com o cotovelo na cabeça, desconfio que me fez um traumatismo craniano!
Piscas – Com traumatismo craniano, nasceste tu, ó…
Ouviam-se alguns risos…e mais uma vez um dos passageiros falou- Vai ser lindo vai! As constipações e as gripes, vão diminuir! Mas as entradas nas urgências com cabeças e queixos partidos…vão ser aos montes!!!
Beto - E óculos!!!!
Outro passageiro ainda não identificado - Se esse gajo quiser, um traumatismo craniano também se arranja…
Nisto, já farto de tentar fanar a carteira ao beto, o Iscas olhou para trás e disse:
Iscas - Fooooosga-se! Olha quem ele é…Vai lá vai!
Piscas – Ukéke foi, meu?
Iscas – Sabes quem é o gajo que falou agora lá atrás? É o benfiquista da postagem aqui de baixo…
Piscas - Aichhhhhhh cum caneco!!!! Agora é que vai ser lindo!
Beto – O quê? ‘Tá a falar comigo, é? Olhe que a conversa ainda não chegou aí atrás!
Benfiquista – Queres um traumatismo craniano? Anda cá, anda! É só escolheres se é do lado esquerdo ou do lado direito!
Piscas (em voz baixa, dirigindo-se ao beto) – Olha lá, ó esticadinho... ‘tá mas é calado, senão ainda levas com o metal todo ali do homem e vais ver o que é um traumatismo craniano!
O benfiquista arrancou lá do fundo de unhaca em riste e ao chegar ao pé do Beto, disse :
Benfiquista - Olha que eu venho ali atrás...ãh?e a tua conversa ãh? já me está a meter nojo...ãh? Olha que o Benfica perdeu ontem ãh? e tu se não te calas, ãh? para além de ficares sem óculos ãh? ainda te arriscas a ficar sem olho!
E aproximou-se ainda mais, com a mão esquerda agarrada ao manípulo, ficando com o sovaco bem exposto, a libertar baforadas ácidas de suor matinal, bem perto da cara deles.
Piscas - Tás a ver ó esticadinho? Tás a ver o que arranjaste? E você...tenha lá calma, homem! Toda a gente sabe que o Benfica perdeu por culpa da arbitragem...
Beto - Oiça, mas você está-me a ameaçar? Chegue-me para lá essa unha, se faz favor! Você devia ser preso por andar aí à solta com isso! Olhe que essa coisa pode ser considerada uma arma branca!!
Passageiro em pânico– Ó chefe…abra-me lá aqui à frente, vá lá…
Iscas - Arma branca não! Arma amarela!
Nisto, uma senhora começou a sentir-se mal com o pivete e o Iscas pediu gentilmente um lugar nos destinados a grávidas, deficientes e acompanhantes de crianças de colo, onde estavam confortavelmente instalados 4 homens que só poderiam ser deficientes, uma vez que não tinham crianças ao colo. Aproveitou para rapinar a carteira em primeiro lugar do único que se levantou muito contrafeito, e ao desequilibrar-se estratégicamente, surripiou a de um outro que fingia com muito custo estar a dormir.
Olhando para o benfiquista que continuava inclinadíssimo, com a quinquilharia a baloiçar perigosamente e bafo a sovaco a ameaçar subir de intensidade, e para o beto que já estava a ficar verde, o Piscas resolveu intervir...
Piscas - Safa, homem! Sou obrigado a concordar aqui com o esticadinho! Você chegue-se para lá!... Você 'tá todo armadilhado! E com esse smell para ajudar...bem! Isso é gás lacrimogêneo ou quê? Você é uma autêntica bomba ambulante, foooosga-se!
Outro passageiro lá do fundo- Bomba? Alguém precisa aí de uma bomba? Não seja por isso...


Agora, quem quiser aceita o seguinte DESAFIO:

Como poderá ter terminado esta viagem?


MCB 08

1/08/2008


SER BENFIQUISTA!!!
Estava eu muito descansada na minha rotinazinha a fazer as consultas habituais, eis senão quando, me entra pela porta um personagem no mínimo curioso...

Trazia algo junto ao pescoço, de metal prateado e trabalhado, com umas pedras vermelhas, que deveria ter alguns 10 cm de largura e que não consegui identificar logo. No entanto, o objecto era tão estranho que, logo no início da consulta resolvi arranjar uma estratégia para conseguir perceber o que era aquilo:
- Este peso que tem hoje...é o mais alto de sempre?
- É sim!
- Mas o senhor foi pesado com isso tudo que traz aí ao pescoço?
- Quem? Eu?- note-se que não estava mais ninguém no gabinete.
- Sim...o senhor...
- Fui, fui! - disse ele, pondo com orgulho a manápula direita em cima do objecto não identificado de metal.
- E já agora, desculpe-me a curiosidade, mas isso que tem aí... é exactamente o quê?
- É uma águia! Do Benfica!
- Ah...claro...pois...não tinha percebido...
Apesar de esta pergunta ter sido principalmente para satisfazer a minha curiosidade, não foi de todo descabida, pois no mesmo pescoço, estava também pousada sobre o abdómen volumoso, uma daquelas fitas que as pessoas por vezes usam com a chave do carro. Com uma única chave, certo? O nosso personagem, para além de certamente transportar ali o chaveiro de um prédio inteiro com chaves de variadíssimos tamanhos, ainda conseguia trazer lá pendurado um corta-unhas e uma Santa (coitada) que não percebi bem qual era, porque só de vez em quando a via a espreitar do meio da quinquilharia...
Provavelmente, também haveria por lá um canivete suíço, ou talvez algum berbequim...ou alguma granada (senti por segundos vontade de chamar a Brigada das minas e armadilhas).
Mas não pude reparar bem, pois a pelagem do senhor era tão compacta, a saltar para fora da camisa aberta quase até à barriga, que mais parecia um tapete. E achei que se olhasse muito, ainda me arriscava a ouvir algo como:
- O quê? Devo fazer várias refeições por dia e começar a fazer exercício físico para ter hábitos de vida saudáveis? O que tu queres sei eu...
Como um homem prevenido, vale por dois, apesar de toda a artilharia que já trazia ao pescoço (a que se via e a que não se conseguia ver), o nosso personagem ostentava ainda aquela uma daquelas típicas "unhacas-multi-funções", usadas para limpar os pavilhões auriculares e para coçar zonas mais recôndidas do corpanzil, servir de fio dental, tirar coisas do nariz e ainda para (em caso de esquecimento de um abanador potente) servir para atear o lume para os grelhados ou quem sabe a lareira...

Aproveitando o facto de o telemóvel do personagem ter tocado - claro que a música era o hino do Benfica - e ele ter atendido sem ter sequer pedido licença para isso, continuei a observá-lo, qual David Attenborough, do meio de uma vegetação imaginária.
Por falar em vegetação e voltando ao pavilhão auricular do espécimen em questão (salvo seja...lagarto- lagarto- lagarto), este possuía uns tufos de pêlo enormes a sair, quais arbustos selvagens depois de uma tempestade tropical, que pareciam ter sido podados há cerca de 1 mês, a julgar pelo seu corte a direito. Bem trabalhados davam para fazer umas "rastas" jeitosas...ou tranças...aliás, tal como os arbustos do nariz... Pois...mas esses...seria mais complicado, já que se misturavam com o bigode farfalhudo que lhe tapava o lábio superior...

O cheiro acre a suor que já pairava no ar, como se não bastasse o bafo de onça intercalado com bafo de vinho e o odor a sulfato de peúga, fazia-me "acordar" de vez em quando e continuar a consulta, tentado utilizar o melhor possível os princípios da Educação Terapêutica (deixar a pessoa falar e exprimir-se...etc)... mas, não estava fácil...

Já de janela escancarada, imaginei o personagem a limpar a boca à refeição...com um guardanapo que serviria certamente de lenço...e a assoar-se com um lenço que não poderia deixar de servir também de guardanapo...

As minhas divagações foram interrompidas por uma descoberta de mais uma aplicação da enormíssima e amarelíssima unhaca-multi-funções: o sujeito resolveu retirar algo do couro cabeludo, que depois de analisar cuidadosamente com o ar entendido de quem estava a observar algo ao microscópio com rigor mais do que científico, sacudiu depois para o chão (ainda bem que não foi para cima da secretária) com a unha do polegar, também esta, em promissor crescimento.

Finalmente a dei por terminada a consulta e ainda pude vislumbrar - sem surpresa- a bela da meinha branca de turco, com o sapatinho preto bicudinho, a condizer com a figura junta...

Fiquei com a sensação que poderia não ter aplicado à risca os tais princípios da Educação terapêutica...mas pensando melhor...o sujeito lá exprimir, exprimiu-se! E até demais!
PS - Pede-se que os Benfiquistas que leiam este desabafo, não levem a mal! Apesar de ser Sportinguista, tenho muitos amigos Benfiquistas e garanto que nenhum deles é assim!

PS2 - Além disso...a águia que o nosso personagem trazia ao pescoço, era tão feia que bem que podia ser um Dragão! ;)
PS3- Para que não restem dúvidas, este texto surgiu na sequência de um desabafo que fiz a um amigo no final desta consulta, que é Benfiquista.
MCB 07/08

12/27/2007




PANTERA NEGRA


.
.
Como um animal selvagem


esgueiro-me nas sombras do nada


camuflada pelo meu orgulho


e pela força de ser alienada...


.
Sorrateira, avanço sem som


pantera negra do ocaso escuro...


Olhar fixo em presa incógnita...


Num presente tornado futuro...


.



Em mim deslizam recordações


pintadas com as cores do vento...


e com flashes de vozes persistentes


laivos de frases feitas estridentes...


insistentes...


.



Calem-se!


Não quero ouvir mais nada!


Sou de uma raça à parte!


Livre e amotinada!


 
Mesmo que me saiba em extinção


quero sulcar o meu caminho


com as minhas próprias garras!


.
E mesmo que me sinta a sangrar


quero morder o meu destino


dilacerar as amarras!



 
Calem-se!


Não pedi para ser nada de ninguém!


Quero ficar em mim...


Não me tentem domar!


Ninguém merece saber o que sinto!


E jamais alguém me ouvirá queixar!


.



E com a certeza de uma fera ferida


avanço calma...prossigo suave e quente...


na noite da minha vida...


no silêncio urgente...


.



Sob o imenso manto prata da lua


avanço firme... num contínuo deslizar...


vestida apenas de mim...do mundo nua...


.


Meu brilho, ondulante e negro...


Atento e penetrante, o meu olhar...


.


.


MCB 07

12/06/2007

Quando não apetece escrever nada...vão-se buscar coisas ao baú da memória...


PORTO DE ABRIGO




Não pode ser normal este desejo imenso
Não acredito que mais alguém possa sentir assim
De certeza que ultrapassa os limites do bom senso
tudo aquilo que sinto
quando estás perto de mim...




É uma necessidade que, de tão intensa, faz doer...
É uma luz negra que cega e nada mais que tu, eu vejo...
É um sonho vivo e doído...
São desvarios de prazer...
É perder-me num só toque e encontrar-me num só beijo...




E é uma fúria tão doce, selvagem e alucinada...
Uma verdade tão forte que rasga e que é tão urgente...
É uma embriaguez suave, leve solta e perfumada...
Um frémito quente e meigo...
Uma loucura pura e quente...





O meu corpo vegeta quando não estás comigo...



Sem ti, sou uma ave perdida...
sou um barco à deriva no mar...

E tu...Tu és o meu ninho...
És o meu porto de abrigo...



És o carinho e o aconchego
onde sei que quero ficar...




MCB 96 /07

11/21/2007


DESAFIO!


Há muito que não havia um desafio no Dark Side of Morgana...

Aqui vai este:

1- Qual o conselho que até hoje deram mais vezes?

2- Qual o conselho que mais vezes vos foi dado?

11/10/2007



VOAR DE TI



Eu vou voar de ti...
vou sacudir estas areias movediças ácidas e laminadas
vou arrancar-me desta lama seca de inércia asfixiante
sair deste poço sem fundo, queda livre de mãos amarradas...



Eu vou sair de ti...
não vou ser uma bola de ténis num jogo gasto e decadente
não vou fazer triplos mortais em redes incertas de traições
nem dançar mais ballet clássico numa corda bamba ardente...



E vou voar para longe...
vou migrar para horizontes de aguarelas vivas e distantes
rumo ao nascer de um sol num mar bem mais azul e mais alegre
a anos-luz dos teus labirintos escuros, sinuosos e constantes...



E vou levantar vôo bem firme...
deixar para trás a exaustão de umas cinzas feitas de aço
e com toda a energia reinventar o rumo da minha viagem
com toda a ousadia da fénix mais altiva e mais selvagem...



E vou deslizar bem alto...
a avançar com o meu próprio ritmo mais sentido e mais seguro
e sentir-me a ganhar uma força e uma velocidade efusiantes
e inebriar-me ao exalar o meu orgulho mais intenso e mais puro...



Estou a voar de ti...



MCB 07

11/02/2007



NÃO CONSIGO ESCREVER...



Não consigo escrever tanta mágoa...
tanta espiral contínua e crescente
tanto fogo amargo, tanto oceano de sede
numa fonte sem água...



Não consigo escrever tanto vazio...
que nada nem ninguém preenche
nem nada nem ninguém acalma
que é tão escuro...e que é tão frio...



Não consigo escrever tanta saudade...
tanta lágrima constante fixa na alma
tanta nó cego no peito, tanta apneia da vida
tanta louca ansiedade...



Não consigo escrever tanta dor...
que embarga sem dó a simples existência
que ensanguenta cruel o âmago do ser
com tão firme e indomável vigor...

Não...

Não consigo escrever...



MCB 07

10/28/2007


FILME ALHEIO



Tenho vontade de me dividir em duas
e não ser ninguém

Vontade de fugir
para nenhum lugar

De fechar os olhos
e não ver mais alguém

De adormecer
e não ter que acordar



Queria assistir à minha vida
como um filme alheio

O que eu queria mesmo
era não ter que ser eu

E rifar o meu destino
num qualquer sorteio

E ter a incrível sorte
de quem nunca nasceu.



MCB 96

10/23/2007


AFINAL

Afinal não era "luz"...

Era a breve chama frágil de uma vela rasa e plana...

Brilho turvo que mal se vê e nem o olhar seduz...

Calor amorfo... que nada aquece...que nada emana...




Afinal não era "oxigénio"...

Era uma baça atomosfera rarefeita e sufocante...

Um nevoeiro carregado de gotículas de arsénio...

Um abismo negro vivo e sem fundo...angustiante...




Afinal não era "vida"...

era um limbo de sofrimentos doídos e cortantes...

uma auto-eutanásia lenta, intensa e sofrida...

a última gota de sangue...homicídio em instantes...




Afinal não era "amor"...
era outro qualquer sentimento temporariamente útil...
uma ilusão bem feita... um mistério...um torpor...
que se desmorona e cai com qualquer sopro fútil...




Afinal não era nada...
era um imenso mar gelado de fogosas emoções...
era a paixão aquosa de uma pedra alucinada...
a queda livre num vácuo de sensações...
a última centelha de vida... apagada...
pântano fétido de ilusões...
e água estagnada...



MCB 07

10/06/2007




PACTO MUDO



É o brilho quente

com que o teu olhar me ilumina a alma

que me faz ser a tua chama...

e dançar dormente

na tua fogueira mansa e calma...



É a doce urgência

com que a tua boca bebe a minha tez

que me faz ser a tua seiva...

e sentir-me a tua essência

com a fórmula que mais ninguém fez...




É aquela loucura

com que um ao outro reagimos

que nos faz sentir completos

corpo, mente, desejo, ternura

e rirmos felizes só porque existimos...



É toda a intensidade

com que estamos sempre conectados

que nos faz sentir vibrar

por sabermos que na realidade

já estamos um no outro tatuados...



É este pacto mudo

tão evidente no nosso abraço,

que nos faz ter a certeza

de não haver nada, de não haver tudo

que possa não caber no nosso espaço...



MCB 07



9/26/2007


FEBRE


Como estou com uma virose (das bravas!!), lembrei-me e algo que tinha escrito há uns bons aninhos, em circunstâncias semelhantes! Só que enquanto eu por agora ainda não passei dos 37,8, tenho aqui uma notinha que me diz que escrevi isto com 39 graus de temperatura!

Ganda maluca!


Gosto de viver em alta temperatura
Em ebulições fortes e constantes
Lava viva de erupções excitantes...
E esvair-me em vapores de ternura...


Mas hoje, tenho mesmo febre!
Meios sonhos, turvas visões...
furna de quimeras ardente...
tórridas e fúlgidas sensações...
ilusão doce, fluída e quente...


Fecho os olhos, sinto arrepios,
plano numa bruma inebre
e navego solta em suores frios...
quando afinal o que eu tenho é febre!


Ausento-me de um corpo dormente
em delírios de arder liberta...
e em vez de me sentir doente,
sinto o que a febre me desperta...



MCB 92

9/10/2007


MALDIÇÃO



Foge de mim
enquanto podes...

sou o pássaro da morte negro e púrpura
mensageiro do feitiço da noite e da dor
treinado para, da maior paixão do mundo
conseguir depurar todo o amor...



Foge de mim
enquanto eu deixo...

porque és a presa preferida
com que brincam minhas garras poderosas,
enquanto te envolvem em ilusões eflúvias
numa teia de emoções tenebrosas...



Foge de mim
enquanto te resta energia...

vou soprar-te o meu perfume mais fatal...
enquanto te rodeio em investidas aguçadas
e absorvo a tua essência mais pura
em rodopios de vinganças aladas...



Foge de mim!
enquanto tens réstia de vida...

antes que te sirva com sensuais danças
em bandejas de volúpia e prata
cocktails da minha seiva mais doce
que enlouquece e depois mata...


FOGE DE MIM!!!
Sou a praga da vida
O veneno do escorpião
A última alma perdida
Sou sangue...
Sou MALDIÇÃO!
.
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MCB 07